quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Pequenos humanos, Grandes negócios
É oficial! Vivendo em uma grande cidade, enfrentamos desafios, assumimos responsabilidades e encaramos grandes problemas. Num lugar em que tudo gira em torno de organização (ou, da tentativa de a fazer), parece não haver espaço para falhas.
Um sistema tão acelerado que "não entrar no compasso" significa cair e ser atropelado.
Lembro-me de um tempo em que eu passava lustra-móveis na capa dos meus CD's (Prefiro acreditar que, na época, eu não sabia que era um lustra-móveis o que eu tinha nas mãos), mas, enfim, a idéia era tentar não deixar os CD's - já bastante usados – com aspecto velho... esbranquiçado.
Sendo isso um reflexo do meu comportamento de não muito tempo atrás, existiam, correlatos a ele, pontualidade, mania de arrumação e preocupação com detalhes patológica. Uma pessoa que acorda às 5hs30min da manhã para um compromisso às 7hs não pode ter escapado de uma seqüela neurológica advinda de uma pancada na moleira enquanto, ainda, na maca da maternidade.
Anos passaram-se e, de repente, me vejo em uma cidade grande novamente, depois de anos no interior. Percebo que devo ter-me abrasileirado, como diria o português. Depois de anos de "15-minutinhos-não-são-nada" e de "deixa-assim-mesmos", a grandiosidade implacável da cidade grande e organizada insiste em me reposicionar. Por que 15 minutos aqui valem muito e porque a imagem de algo que se faz por aqui tem que ser impecável.
Por quê? Talvez, porque haja tanta gente fazendo e oferecendo a mesma coisa que o diferencial é aproximar-se o máximo possível da perfeição. Uau! Como é pretensiosa e utópica a cidade grande. Mas, é assim que funciona... Viver na cidade grande significa estar num lugar onde o seu melhor nunca é o bastante.
Portanto, a perfeição é requisito básico na fala, no comportamento e no produto do que nos propomos a fazer. Seja menos humano! É o que os imagino dizendo todo o tempo e isso me deixa confuso porque, ao mesmo tempo em que sinto "parafuso e fluido em lugar de articulação", percebo o quão melhor as coisas podem ser feitas e que o progresso depende disso.
O homem precisa mesmo ser uma máquina para o mundo progredir?
Se isso é supervalorizar o material, não sei. Mas, quanto às pessoas... Elas não são lá muito encantadoras no dia a dia, nem parecem muito satisfeitas com esse processo desumanizador. É visível no ponto de ônibus, no elevador, nas ruas. Se lessem meus pensamentos, eu não estaria mais aqui pra contar a história. Eu sou muito mal com essas pessoas em pensamento. Mas, elas também são muito ruins no jeito que me encaram; no jeito que se vestem; no jeito que não dizem "Bom dia" no elevador.
As pessoas estão sempre com pressa e atropelam quem está na frente... elas comem amendoim e jogam as cascas na rua, batem nas crianças e se relacionam pelo orkut. É assustador esse processo causado pela azáfama das grandes cidades. Tudo é tão beyond e primário ao mesmo tempo. Trabalhar pra comer; comer pra dormir; dormir pra ir trabalhar; trabalhar para comprar.
Até o final de semana nos bares dos seus Zés e das Donas Marias são pra relaxar pra ganhar mais algum na segunda-feira. Fica difícel encontrar gente de verdade por trás de tudo isso. Uma casca que vai engrossando com o passar do tempo.
E o que é mais estranho é que aquela pessoa robótica e impessoal, apesar de estar tão endurecida e cruel... de repente, aparece suscetível, carente e indignada com atos e fatos dos quais ela mesma pode considerar-se partícipe. Seria esse o momento de ascensão do núcleo?
Nesses breves momentos, alguém simplesmente dispara um comentário elucidativo sobre o absurdo que é aquele cara ter tentado furar a fila no banco ou a velocidade com que aquele maluco dirigia pela faixa de pedestres.
Nesses breves momentos, um estranho que jamais seria, sequer, amigável pode transformar-se em um amigo. Isso é o que há de encantador nesse lugar gigante. As pessoas têm essa capacidade de parecer fechadas, distantes, inacessíveis. Mas, uma vez que você consegue romper aquela casca dura... Um momento de epifania nos conduz ao insight de que somos irmãos, em algum nível, somos irmãos. E isso faz valer muito a pena!
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2 comentários:
é impressionante como temos que ser cada vez mais máquinas de fazer o mundo girar!!!!!! Processo sem volta...
É amigo, falar de cidade grande é voltar para as cavernas e cai numa selva de pedra. Lembro me como se fosse onte, eu numa selva de pedra rodeado por pessoas que mal dava um olá, ah não ser que você fosse um consumidor foraz.
Se adaptar em uma cidade grande pra quem tem o sublime do interior é levar um choque de mente, ou veste a careta ou volta pra simpres e pacada vida. Eu sei muito bem como é isso.
Mais to escrevendo pra dizer que gosto de lê seus pensamentos.
Abraços e saudades de seu amigo!
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