quarta-feira, 17 de abril de 2013

Prisão

E meu coração Virou uma ferida que carrego através dos tempos E limpo, e lembo e passo unguento Dentro dele tem água Tá quase inundado do choro que não caiu e tem palavra das coisa que não saiu Tem tanta coisa que quase não sobra espaço pra gente Não fico a vontade na presença de gente querida Tenho medo que vejam minha ferida E se quero que vejam, parece que é invisível Essa dipirona que não faz mais efeito É que quem precisa de cura agora não tem matéria É essa sensação de que está tudo errado desde o começo E eu não consigo fazer o efeito disso tudo passar Minha carne está mole do prazer do fago E meus pulmões estão podres do prazer nebuloso E eles não me trazem mais a paz Se ao menos houvesse alguém Alguém que me adotasse e me tomasse como causa Alguém que conseguisse me fazer chorar pra aliviar Alguém que dissesse: "Danem-se todos eles, os mortos e os vivos, eu estou aqui." Alguém que me deixasse fazer drama o quanto eu quiser Que acreditasse nos sonhos meus, para os quais eu acho que é tarde demais Que me fizesse perdoar quem não mais me tem E achar, de verdade, que são eles que precisam ser perdoados Quero andar de novo naquelas ruas E quero que as memórias me façam sorrir desta vez Se hei de vaguear até o fim dos tempos sem curar minha alma Quero descanar em paz.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Mãe

E se eu tiver que me editar E cortar pedaços de mim Para que você não me afaste E tenha coragem de lidar comigo... É porque eu te amo muito ou porque você me ama pouco?

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Pêssega!

Relações em ré E a velocidade reduzida Lágrimas na chuva Que jamais são vistas Na inutilidade do dizer perdi meu prazer Onde foram meus orgasmos E minha vontade de vencer ?

Eu, Peixe alado!

Há um tempo, fui apresentado ao conceito de que existem inteligências múltiplas e fiquei fascinado. Depois de passar a infância, a adolescência e o início da vida adulta acreditando que era um jumento por ter tantas dificuldades em matemática e nas ciências exatas, descobrir que uma inaptidão (qualquer que seja) não anula uma aptidão, foi bastante reconfortante. O fato é que saber-me um bom professor de língua estrangeira se tornou uma grande zona de conforto. Depois de anos sendo um perna de pau no futebol, um mentecapto em matemática, um azarado desatento nos jogos de família, finalmente, havia encontrado algo que eu podia dominar, algo que podia assumir como detentor. Mas, as categorias foram se subdividindo. E se eu era professor, tinha que ser pós-graduado, se era pós-graduado, tinha que viajar pro exterior e assim por diante. Enfim, uma sequencia impressionante de exigências que fui percebendo que de maneiras diferentes estariam presentes em todas as esferas da minha vida. Lembro que quando criança e fazia parte de uma determinada religião, minha mãe usava sempre um menino da mesma idade que a minha como parâmetro de desenvolvimento naquela comunidade em que a hierarquia, desde muito cedo, vai sendo marcada. Lembro que antes disso, os inúmeros instrutores que, automaticamente, se atribuem a uma criança, já apontavam para alguém que tinha o desempenho esperado numa atividade, num comportamento ou, enfim, em uma inteligência e diziam: "Veja o seu coleguinha ( O Pedro, O Jonas, A Marina... por que você não faz como ele(a)?" E assim, criam-se os modelos que você acaba acreditando que precisa seguir. O modelo de profissional, o modelo de filho, de marido (e aqui, além da expressão de gênero, aplica-se também a orientação sexual), os modelos que se designam para cada um de nós, em cada aspecto de nossas vidas. Com o passar do tempo, a gente vai se sentindo cada vez mais um produto e a cada pesquisa, vamos nos sentindo um produto que, defasado e depois de ter sido avaliado e comparado vai deixando de atender às exigências do consumidor. O consumidor que quer um amigo, um cônjuge, um funcionário e enfim. Interessante como o tempo inteiro somos tacitamente ensinados a fazer ajustes para atender às exigências alheias, mas nunca nos ensinam que somos bons do jeito que somos; Que não precisamos caber no formato de um círculo se somos um triângulo, ou no formato de uma estrela se somos um quadrado. É aquela velha história de que não se deve avaliar um peixe por sua capacidade de voar. Somos tão plurais e insistem em avaliar-nos como uma forma única e engessada... que injustiça!

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Saudade

Desde crianças, ouvimos sobre a peculiaridade da palavra saudade, do privilégio que temos por poder usá-la e da exclusividade da sua existência em nossa língua.

Saudade, para nós, sempre foi palavra que dá nome a uma coisa. Coisa que dá e passa; saudade é o amor que fica; saudade dói, dói, dói.

Em prosa, em poesia, em correntes, a saudade figura em muitas formas, cores e descrições e eu concluo: Quem quer que tenha criado essa palavra que dá nome a uma coisa, não sabia que essa coisa está além de qualquer palavra.

Saudade é o nome que a gente usa para quando o amor não pode ser executado; quando o carinho não encontra seu alvo (Entre outras coisas, claro). Saudade vem e vai como um lembrete do que falta em nosso sistema; do que nos desestabiliza.

A encaixamos, todo dia, na categoria das sensações fisiológicas: "Tô com fome" para quando falta comida; "tô com sede" para quando falta água; e "tô com saudade" para quando falta... (o quê, exatamente?)

Não se pode alcançar exatidão com a saudade. Saudade pode ser de quê ou de quem, de algo ou de alguém. Saudade desperta com um cheiro ou com a ausência de um cheiro. Saudade desperta com um sonho que faz você perceber o quanto necessita de algo (ou alguém); Saudade de amigos, da família, saudade daquela camisa que manchou, pode-se sentir saudade de qualquer coisa; até de uma surra.

Saudade é uma foto que tiramos do que é bom e veneramos, desejando que tudo seja daquele jeito pra sempre; ou, pelo menos, mais uma vez.

Tem saudade que tem cura e tem saudade que não tem. Saudade que a gente mata e saudade que mata a gente... "Tô morreeeendo de saudade". Tem saudade que a gente enterra para não morrer. Saudade é coisa que não tem como descrever.

Como pintar a saudade com uma cor alegre se a alegria só vem quando a gente mata ela?


Enfim, saudade dói e machuca... mas, quando a gente tem a chance de dar o troco nela, é, simplesmente, maravilhoso.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Nascidos de que jeito?


"Eu sou belo do meu jeito, porque Deus não comete erros. Estou no caminho certo, baby. Eu nasci assim." (Lady Gaga, Born this way)

Concluindo sobre esta beleza de nascença cantada por Lady Gaga, depois deste carnaval em Salvador: Como está bela a comunidade das siglas enigmáticas!

Peitos, coxas, bundas, cabelos e tatuagens perfeitos. Definitivamente, Deus não comete erros. Das "barbies" às "pão com ovo", todas aprenderam a lição da Lady Gaga ao editar suas imagens através de comportamentos, frases e roupas. Uma direção e seleção digna de Steven Klein.

Entretanto, quanto mais perto e mais íntimo do L, do G, do B ou do T, mais percebe-se o quanto o "carão" sustentado na boate e/ou o peito estufado por trás do abadá do crocodilo são falsos.

Em que transformou-se o movimvento libertador da sigla? Uma réplica piorada do modelo preconceituoso, hipócrita e repressor de sociedade?

De repente, a comunidade gay parece ter proclamado uma guerra interna da qual a arma mais poderosa é o status. E para quem não sabe, status é 'comprar aquilo que você não precisa, com o dinheiro que você não tem, para exibir para gente que você não gosta, aquilo que você não é'.

E, nisso, resume-se a experiência de libertação da comunidade gay de salvador. Uma cidade, como disse meu amigo Paulo Torres, grande por fora e pequena por dentro. Imagino que até Lady Gaga ficaria desapontada com a atitude arrogante, hipócrita, preconceituosa e, principalmente, excludente dos gays que estouram seus cartões de crédito, cheques especiais e passam o ano inteiro pagando para , por exemplo, peregrinar atrás de um carro de som, com sua camiseta salvadora, vugo camiseta de bloco, simulando sorrisos amarelos em fotos que fazem, exclusivamente, para postar em suas redes sociais.

É visível o esforço exaustivo que a grande maioria faz para alcançar cada um dos indicadores sociais que elas mesmas criaram, desvirtuando assim, essa comunidade que, um dia, raiou pela liberdade, respeito e igualdade.

Onde está o respeito pela própria identidade destas pessoas que amam boa música e amam a beleza do ser e, deveriam, PRATICAR o ser; quando estão sempre recostados nas paredes das baladas com suas roupas coloridas, com os dedos dos pés retraídos dentro do sapato e movimentos calculados com precisão cirúrgica no pavor de parecerem ser o que realmente são?

Onde está a coragem em prol da própria identidade destas pessoas quando dançam como nerds, escondendo a sapiência quase profissional de dança e precisam estar inundadas de álcool para renderem-se ao soar das 3hs da manhã e, finalmente, começar a dançar, conversar e beijar, mas, apenas com aqueles que atendem ao critério quase inatingível que acovardaram-se a exercer?

A conclamação pela união, respeito, igualdade e, principalmente, liberdade dos ícones gays parece não ter ultrapassado, sequer, a barreira da língua, quanto mais, as barreiras, ou melhor, as barragens que limitam as mentes futilizadas e abiloladas, cheias de ideias que contradizem com o que 'curtem'.

Precisam, mais do que nunca, realmente compreender seus ídolos que já estão roucos e irritados de gritar: "express yourself", "I will survive", "It don't matter if you're black or white".

Precisam fazer menos carão e mais carinho. Precisam ser belos de seu jeito... do jeito que nasceram.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Presente pra você


O passado é sempre superestimado. Nas artes plásticas, temos as antiguidades; no cinema, temos os clássicos; na música, temos os famigerados "retrô", revivals e as homenagens que resgatam a boa música de décadas passadas.

Na vida, não muito diferentemente, temos os "bons tempos que não voltam jamais".

Afinal, temos ou não o hábito de fantasiar sobre um passado em que as sensações e acontecimentos eram sempre fabulosos? E, se sim, estamos deixando de construir um futuro brilhante na busca incansável de reproduzir o passado?

Acredito que quando praticamos uma lembrança, remasterizamos uma experiência, analisamos de forma diferente o que era presente, percebemos que sentimos saudade do que foi vivido, apesar de que à epoca, parecia-nos banalidade. Pode-se lembrar com saudade até de uma surra, se você for capaz de remontar os sentidos de tal momento, o contexto e o motivo.

Mas, nada agrega mais valor ao passado do que a sua intangibilidade. O que é inalcançável é irresistível e, automaticamente, considerado valioso. Como os prótons e íons, ou como qualquer raridade. O que eu não posso ter, é o que passo a desejar ainda e cada vez mais. Penso que é esse movimento que aplicamos ao nosso passado.

Ainda obcecados pela intangibilidade, transitamos entre o saudosismo e o futurismo profético. Esquecemos que ao invés de uma dupla escorregadia e imprevisível, há, na verdade, uma tríade que concentra sua realidade no meio, neste momento. Há o passado, o presente e futuro. Temos presente e, possívelmente, teremos um futuro. Temos o passado? Ou temos apenas passado?

Temos passado pelo presente desapercebidos do risco que se corre de dizer no futuro: "Eu era feliz e não sabia." Mas, talvez, estamos desconsiderando que o presente influencia o futuro, enquanto que o passado continua em seu pedestal abstrato. O passado de nossas vidas pode e deve ser visto e contemplado, mas, não devemos nos perder em uma contemplação imobilizadora.

O passado é imutável, o presente e o futuro são insólitos. Essa segurança é fascinante e desperta uma ânsia antropológica por avaliar detalhadamente os comportamentos e vermos quem costumávamos ser e com quem costumávamos ser; onde estávamos e onde estamos.

Sem dúvida, o passado tem seu valor. Mas, ele é como uma deusa indiana excêntrica e possessiva que enlaça e envolve-nos, se permitirmos, imobilizando seu súdito, em seu próprio desejo de reviver ou de fazer continuar o que já está passado. O que está no passado.

Minha mãe sempre diz que quem vive de passado é museu. Clichê dos bons. Mas, sabe que faz sentido? Os museus, pelo menos, tem algum lucro vindo do passado. As crianças tem medo dos museus; acho que é porque elas não tem ainda um passado e, para elas, apenas importa viver o presente; divertir-se. O passado tem para uma criança um componente de uso imediato, ou seja, uma criança não pisa num espinho duas vezes. Uma criança não perde a diversão, porém.

Eu também tenho tido medo do passado, e não terei lucro dele, além da aplicação imediata para não pisar nos espinhos novamente. Vou ser feliz, sabendo.