quarta-feira, 17 de abril de 2013

Prisão

E meu coração Virou uma ferida que carrego através dos tempos E limpo, e lembo e passo unguento Dentro dele tem água Tá quase inundado do choro que não caiu e tem palavra das coisa que não saiu Tem tanta coisa que quase não sobra espaço pra gente Não fico a vontade na presença de gente querida Tenho medo que vejam minha ferida E se quero que vejam, parece que é invisível Essa dipirona que não faz mais efeito É que quem precisa de cura agora não tem matéria É essa sensação de que está tudo errado desde o começo E eu não consigo fazer o efeito disso tudo passar Minha carne está mole do prazer do fago E meus pulmões estão podres do prazer nebuloso E eles não me trazem mais a paz Se ao menos houvesse alguém Alguém que me adotasse e me tomasse como causa Alguém que conseguisse me fazer chorar pra aliviar Alguém que dissesse: "Danem-se todos eles, os mortos e os vivos, eu estou aqui." Alguém que me deixasse fazer drama o quanto eu quiser Que acreditasse nos sonhos meus, para os quais eu acho que é tarde demais Que me fizesse perdoar quem não mais me tem E achar, de verdade, que são eles que precisam ser perdoados Quero andar de novo naquelas ruas E quero que as memórias me façam sorrir desta vez Se hei de vaguear até o fim dos tempos sem curar minha alma Quero descanar em paz.

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