quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

xu xu xu, xá xá xá!


Algumas coisas nunca mudam. Mas, tanto mais ouçamos esse ditado, menos nos comportamos de acordo com ele. Não sei em que nível, mas esse sentimento existe em humanos dos mais pessimistas ou dos mais realistas.

Quando, afinal, sabemos que chegou a hora de desistir? Terá nossa geração sucumbido de forma irremediável ao "nunca desista dos seus sonhos"? Essa é a máxima que realmente vale a pena ou estamos estagnados num eterno xu xu xu xá xá xá da década de 80?

É bem verdade que os que desafiaram o ridículo conquistaram o mundo; imagino quantas gargalhadas Santos Dumont aturou ou a cruel descrença que sofreu o pequeno Leonardo da Vinci, sendo chamado de excêntrico filho de camponesa. Estava assistindo o Fantástico esse domingo (Não, esse não foi um domingo típico! Sim, eu tenho vida social), mais especificamente, o concurso GAROTA FANTÁSTICA.

Era de cortar o coração o choro das 8 garotas de cabelos escuros, entre as quais, pelo menos 3 tinham o IMC abaixo de 15. Esse concurso me remeteu aos grandes concursos televisivos que com esse nome ou não, na verdade, são um grande show de horrores em que o sonho, o desejo e sentimentos humanos dos mais sensíveis são usados de atração principal.

Pensei no Raul Gil; pensei no America's Next Top Model; pensei no Fama... Pensei na linda garota baiana de olhos verdes e que jamais tomava banho de sol com seus cabelos torturadamente alisados. Lembrei do depoimento sincero de Yasmin Brunet que, falando da multidão de garotas desesperadas em agências de modelos, disse, naturalmente: "Tipo, tem muitas delas lá. E muitas que não têm a menor condição!".
Definitivamente, Yasmin! Esse é muito o ponto em questão! Em que momento entendemos que "nunca desista dos seus sonhos" era o mesmo que "seja irracional"?

O xu xu xu xá xá xá realmente veio pra ficar e o antigo sonho que índias, negras, mamelucas e mameloucas tinham de ser das mais nórdicas paquitas foi substituido pelo desejo que as mesmas delas, em versões bem mais esqueléticas e alisadas, têm de ser Gisele Bundchen's, Ivete Sangalo's e afins. Mesmo quando essas pessoas ( como diria a sábia Yasmin) 'não tem a menor condição'.

E nesse ritmo louco, nesse xu xu xu xá xá xá, lá vem elas cantando Whitney Houston sem saber inglês em seus vestidos esvoaçantes sem saber que competência não é tudo no atual mundo do estrelato. Não, senhores! Isso tudo tem a ver com outras coisas, tem a ver com o sofá certo; ter nascido do ventre certo (Né, Yasmim?!); vir da família certa e por fim a santa trindade do oportunismo: lugar certo, hora certa, roupra provocante certa.

Gente! Quem disse que o ápice de conquistas e sucesso que alguém pode ter é num palco? Por que ser bonito ou cantar bem não pode ser bom numa vida normal de um administrador, advogado, pintor, professor, torneiro mecânico ou seja lá o que for? No final das contas, os deles que tiveram que passar por agruras até o sucesso são os que realmente 'tinham condições' e, definitivamente, sabiam disso. Para os demais, o processo foi natural.

O que as pessoas precisam mesmo é de sonhos novinhos em folha, valores novinhos em folha... autocrítica, vulgo "simancól" novinho em folha, caso contrário, a presente futilidade e as insuportáveis caras e bocas e peitos e bundas vão continuar nesse medonho reinado em que são esses membros que representam o que é ser humano.

4 comentários:

Palatus disse...

Amigo meu,

Por isso me orgulho de ti, de tua escrita exemplar. Tá vendo aí que não troco nunca uma leitura nos bons blogs que encontro aos domingos por uma "É Fantásticô"? Ultimamente venho sempre fazendo o seguinte: ligo a TV pra não me sentir só, quando não há alguém em casa, deixo-a baixinha, pra não me impedir de ouvir alguém na porta "toc toc", depois ponha a bunda nadeira o zói no PC e leio, leio, leio, escrevo, rabisco alguma coisa, tomo nota de outra...enfim, faço o que estou fazendo agora...crescendo só em ler meus amigos inteligentes e críticos. Roney, vi as caras e bundas e "sem peitos" todas desveladas e triste na TV, mas essas cenas me são tão banais que nem me arrisco a sentir sequer pena. Senão junto com a desistência do sonhos delas, eu desisto do meu em alguma coisa na vida. Espero que entenda minha vã-filosofia...mas foi vc quem me fez pensar com esse texto.
Uma abraço,
Teu amigo.

Anônimo disse...

Leco,

È exatamente isso que penso!Quantas pessoas não tem a minima condição, quantas pessoas não querem e quantas outras são empurradas para vidas que não lhe pertecem para suprir carencias ou fruatrações da vida de terceiros?
Seja você, era isso que deveria ser dito a todos nós quando tomamos consciencia da nossa condição de humanos!

Beijos

Darlan disse...

Um texto inteigente, um tapa na cara de muita gente aí, injeção de realidade na veia. Mas então, muitas das vezes a única coisa que a pessoa tem é um sonho, a pessoa se prende só àquilo e não sabe outra forma de ser, e talvez tirar esse sonho dessa pessoa seja tirar seu porto seguro, seu motivo de vida, fato que é menos saudável ainda que perseguir um sonho dito impossível. A verdade é que a realidade não foi feita para todos, na verdade, foi feita para poucos. A verdade nem sempre é o melhor remédio, deixemos que muitos vivam em sonhos, pela superfície da vida, do auto-conhecimento, vai ver assim ainda sejam mais felizes que nós que teimamos nos reinventar e ir afundo em questões cotidianas. A alegria da vida é não saber, a ignorância é linda, cara!

Anônimo disse...

Concordo em genero numero e grau, apesar de achar que a busca pelos sonhos, seja lah qual for, nunca vai acabar. Essas meninas q "naum tem a menor condicao" nao vao desistir de serem modelos nem se a mae delas lhes disserem essa verdade. Alem do mais, a midia precisa de pessoas assim, sem "simacol", afinal chamar a atencao eh tudo! Eu penso que de tudo se tira uma licao, entao para essas meninas e pra quem quer q deseje algo q naum tem a menor condicao de conseguir, esses soh vao "sossegar" quando perceberem por si mesmos que devem buscar uma outra coisa pra suas vidas.