segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Quer pagar quanto?


Não raro, as pessoas projetam onde querem estar depois de um tempo. Eu, que nunca projetei meu futuro, estou intensamente concentrado no meu presente.
São tantas as teorias e estilos de vida com os quais nos deparamos que, às vezes, fica difícil decidir que lema adotar.
Sim, porque no final das contas, o que somos é uma grande colagem de teorias, ideologias e filosofias com as quais concordamos e aderimos sem fazer referência ao autor.
Eu tenho convivido com uma pessoa interessante. Uma figura que foge ao padrão hedonista, imediatista e consumista a que estamos acostumados; alguém que se recusa a pagar R$12 num delicioso e perfeito petit gateau num domingo no shopping e que vive de acordo com sua resolução de "sacrifícios agora para o deleite depois".
Minha dúvida: Estamos obcecados com a ideologia do novo milênio que tornou a satisfação imediata dos nossos desejos uma obrigação? Ou, simplesmente, entendemos que não vale a pena fazer da nossa juventude um período miserável em troca de uma velhice amparada?
Tendo conquistado em 10 anos como trabalhador registrado a fortuna pessoal avaliada em um carro ano 2001 com prestações em andamento e um armário repleto de roupas e sapatos que, provavelmente, custam o equivalente às mesmas. É impossível não pensar nos sacrifícios que poderia ter feito em nome de um futuro melhor.
Entre as renúncias, certamente, no topo da lista estariam as saídas para festas, shopping, cinema, praia e viagens.
Eu não teria saído de sexta a domingo com meus amigos; não teria viajado para Valença, nem morro do São Paulo, nem Boipeba, nem teria ido a São Luiz Maranhão, muito menos em Santos.
Aquele final de semana no hotel em que chegamos bêbados às 4hs da manhã e batemos na porta errada e encaramos um rapaz furioso e saímos correndo e rindo também seria cancelado e os, no mínimo, 300 filmes com o combo de pipoca e refrigerante grandes nas quartas-feiras seguidos de acirradas discussões e críticas sobre a produção e direção seriam reduzidos. A quantidade de cerveja gelada e acompanhada do maço de cigarros que irritava a cantora ao vivo do bar seria mínima ou inexistente e os jantares e almoços nos meus restaurantes favoritos com cadeira cativa sob a árvore se transformariam em um prato de arroz, feijão, bife e batata frita no balcão da minha cozinha americana.
Em segundo lugar, seriam cortadas as minhas queridas ( quase veneradas) roupas. Para estar bem no hoje, que é o futuro daquele ontem, eu não teria comprado uma roupa para cada evento e formatura, nem aquela bata ( amo batas) caríssima para o Reveillon inesquecível com Ivete e Skank ( e sem aquela bata, eu jamais iria para a festa); também não compraria o terno que uso naquela foto linda em que estamos todos na formatura de Franz engravatados e sorrindo depois de termos, tacitamente, combinado de estar todos de terno e gravata.
Também, não teria comprado aquela calça jeans de R$430 que veio com defeito. Não a teria trocado por outra que valia metade do preço e trazido mais um cinto e um chaveiro da loja que dei de presente. Essa calça mais barata não teria sido a mais elogiada das minhas roupas nos nossos encontros e não estaria no meu guarda-roupas hoje, sendo, neste exato momento, o alvo da projeção de meu visual para esse fim de semana.
Bem, não há espaço para listar os cortes que faria para alcançar o conforto e amparo social e financeiro hoje, que é o futuro daquele ontem, e o presente agora. Mas, em 10 anos de economia, tenho plena certeza de que meu carro não seria modelo 2001 e que a grana que todo mês vai para meu querido locador, iria para a Caixa Economica.
Eu seria extremamente hipócrita se dissesse que essa idéia não me parece fantástica. UAU! Eu adoraria ter conseguido fazer isso.
Sinto até uma angustia por pensar que, dependendo do estilo de vida que se leva na juventude, pode-se ter uma maturidade de estabilidade ou de completo caos. Entretanto, existe latente esta idéia dos cortes. Agonia superlativa, visto que me ponho indeciso e imparcial na escolha do que ficaria e do que seria cortado.
E, por fútil que pareça, é horripilante pensar em folhear as páginas da minha vida ( e dos meus álbuns no orkut, claro) e ver tanta página em branco... em ver tanto vazio.
A idéia da casa e do carro seriam ótimas. Mas, será que não tem um outro jeito? Acho que o que não tem outro jeito é o fato de que continuarei à procura de uma forma de fazer as duas coisas porque até o momento, as dúvidas não chegam nem perto de se transformar em arrependimento. E eu quero mais 10 anos assim!

4 comentários:

Unknown disse...

A questão é: o que realmente importa para você?

Magnifico texto!

Aécio disse...

Meu Deeeus..passou um filme, aliás vários filmes em minha cabeça agora..Mta saudade amigo..Realmente tem coisas q n tem preço..Td vale a pena se a alma n eh pequena...Adorei o texo..adorei a foto (amo essa fto..tds juntos, felizes)

Palatus disse...

Digo o mesmo que Aecio, passou um filme em minha cabeça...já me senti assim, queria escrever quase extamente isso, não consegui; com essas palavras, só tu, brutus, sabes dizer. Parabéns pelo bom texto, bas reflexões...demoro de vir aqui bem como tu demoras de escrever aqui, mas quando apareço saio renovado. Grande mestres és tu, companheiro. Um abraço.
Nilson, natural de Valença, recém chegado de sampa,e passando as férias de 10 dias perto de Morro de SP.Feliz Natal. Abç

Unknown disse...

MININUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU, to com os olhos cheios de lágrimas.
Agora elas ja caíram por que do 1º parágrafo até aqui eu demorei pelo menos 3 minutos pensando no que tá escrito.
Linda reflexão sobre o que é futil e o que é prioridade.
As futilidades são prioridades e a prioridade é prioridade. O que eleva tudo a uma mesma categoria podendo ser, tudo, sentido, vivido e aproveitado no mesmo instante.

Bjs. ADOREIIIII