quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Veneno


Alguém fale comigo
Porque meu arquivo de mágoas está completo
Minha visão está turva
E eu preciso ver um resultado pelo tempo em que pisei na brasa calado
Ah, se eu conseguisse descrever a angústia
A ânsia pela libertação
A dor
Se eu pudesse gritar um grito demoníaco e largo que estremecesse os pilares desse sistema e fizesse rachar os meus dentes
Que fizesse cair todos os que ousaram pisar no meu coração
Se eu pudesse com um olhar petrificar o sangue miserável de quem me fez achar inadequado e usurpador do que é meu
E se eu pudesse emudecê-lo para que enquanto o rubro líquido solidificado rasgasse a sua carne, ele, todos eles, não pudessem pronunciar um só suspiro de agonia, assim como eu por todo esse tempo.
Eu...
Assistiria...
E sentiria nesse momento um prazer superior ao prazer de fazer amor com a pessoa amada
Eu...
Hesitaria em fechar os meus olhos pelos milésimos de segundo que denominamos o piscar
Porque não suportaria a idéia de ter perdido um instante do momento pelo qual tenho esperado tanto
Pelo momento em que você finalmente sabe exatamente o que eu senti
O que você me fez sentir
O momento em que, de alguma forma, você soube o que fez e em que eu, divinamente, vi e confirmei que você sofreu e pagou
Sua ausência não será sentida
Seu nome não será lembrado
Você vai estar morto
Eu vou estar...


Livre

3 comentários:

Anônimo disse...

*Outstanding Job, my friend! Pretty Intense, I couldnt even breath while reading your poem!!

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Fernando Perça - SP disse...

O texto está lindo em um puro sádico, muito intenso e sofredor, e muito boa também essa contraposição, muito rica e verdadeira, eu ainda complemento:
"Quando sentir o amargo da mágua e da vingança em sua boca, coloque a doce lembrança do que foi bom..."