segunda-feira, 19 de abril de 2010

Se eu morrer essa noite


Se eu morrer essa noite
A culpa não é sua
Eu que não estava preparado

Se eu morrer essa noite
Não vai ser do jeito que ensaiei
Nem elogios nem admiração pelo meu feito

Se eu morrer essa noite
Serei mais visível para você e para eles. Ou, talvez continue sendo irrelevante até o dia da minha morte.

Ou será noite?

Se eu morrer essa noite, o que vem depois?
Vou deixar de existir assim?
O que vai me restar é o clichê de estar sempre vivo nos corações das pessoas que me amaram?

Quantas pessoas terão me amado?
Se eu morrer essa noite, todas.
Que utilidade o sentimento seu e deles terá se eu morrer essa noite?

Se eu morrer essa noite
Não vou ter feito ou sido o que quis ser

Se eu morrer essa noite, partirei sem saber o que queria ter feito e quem queria ter sido.

Se eu não morrer essa noite, talvez viverei mais um dia sem saber. Ou viverei até o dia da minha morte sem saber. Ou será noite?

Se eu morrer essa noite
Não provarei tudo que queria provar para você e eles.
Se eu não morrer essa noite, talvez viva mais um dia sem provar. Ou viverei até o dia da minha morte sem provar?

Se eu morrer essa noite
Você e eles saberão que as verdades nuas e cruas que saíram da minha boca foram algo bom.

Mas, eu não vou sentir sua gratidão.

Vou ter vivido com minhas irrealizações
Ter chorado por elas
Vou morrer abraçado a elas.

Se eu morrer essa noite
Alguém vai ter desistido de mim. Ou todos.
Mas, terá sido depois que eu mesmo fiz isso.
E se eu não morrer essa noite, talvez haja tempo para que os que não desistiram, façam assim amanhã.

Se eu morrer essa noite
Não vou ter procurado ajuda
Nem ajudado a mim mesmo
E, enquanto eu morro essa noite, talvez alguém morra perto de mim, sem também ter feito isso.

Se eu morrer essa noite
não vou saber se as dúvidas estão mesmo contidas no amor

Se eu não morrer essa noite, talvez viva até o dia da minha morte na dúvida sobre o que ele é.

Se eu morrer essa noite, não serei qual Aquiles. Meu nome não vai ecoar pelos séculos.

Se eu não morrer essa noite, talvez não pratique atos dignos de tal coisa até o dia da minha morte. Ou será noite?

No meu íntimo juízo final
A culpa não é sua
A culpa é minha
Minha morte será indigna e a culpa será minha
Minha
Porque não tenho desculpa
Tudo me foi dado
E o que não foi dado poderia ter sido providenciado, conquistado.

Se eu morrer essa noite
Saberão que meus limites foram reais para mim
Imobilizadores para mim

Se eu não morrer essa noite, talvez pensem que não tento o bastante. Ou, talvez, eu não tente o bastante até o dia da minha morte.

Ou será noite?

5 comentários:

ϟ Luan Côrtes disse...

A segunda geração do Romantismo nunca me aprouve deveras... Essa melancolia mórbida não vale a pena. Prefiro a obra que contenha algum diferencial e que ensine algo de útil a quem se propõe a analisá-la. Se bem que haja utilidade no subjetivismo melodramático... Nunca se sabe. De qualquer forma, só importa ser lembrado por aqueles com quem se importa e como aquele que fez o melhor que pôde com o talento que recebera. That's all.

Alexroney Oliveira disse...

Tentar encontrar utilidade na poesia não me parece natural. A arte não tem um propósito, ela é o prosósito em si.

Aécio disse...

Se não morrer hj, poderá ler essa msg e saber q eh amado e q duas pessoas sentem muito a sua falta.

Petro disse...

Se eu morrer esta noite, com certeza já vivi esta vida feliz um dia. Bom blog. abraço

A.D.I.D.A.S disse...

Você tem mesmo uma alma de artista. Um artista não se entende, não se pede explicações, não se critica, não se duvida. Apenas ama com toda força e alma. Assim como te amo.