domingo, 5 de setembro de 2010

IN(decisão)

É interessante e engraçado como o ser humano pode ser maravilhoso e miserável; um deus e um diabo. E, na pretensão de ser um dos dois, em nome deles jura e entre si brigam. Tenho pensado em como a indecisão é uma coisa angustiante e, ao mesmo tempo, angustiante. Não importa o quanto se analise os prós e os contras de uma situação ou de outra (o que é um ato bastante racional), quando a indecisão se faz presente, o seu efeito imobilizador é contraproducente e incômodo. Não adianta ir dormir, pensando que quando acordar, saber-se-á o que fazer. A indecisão fica latente e latejante, é como fazer uma endoscopia que dura semanas, como ter uma agulha enfiada no lóbulo ocular e não poder gemer de dor, é como ter que conversar com uma pessoa importante e com o pior hálito e não poder dizer nada; como estar num ônibus lotado e ter os pelos nasais carbonizados pela flatulência alheia; como ser convocado para ser mesário na semana do casamento; como ter o salário atrasado por 60 dias e ter que trabalhar na mesma sala que o chefe.
Mas, todos esses casos envolvem segundas ou terceiras pessoas. O detonador derradeiro é mesmo quando a decisão precisa ser tomada e o seu alterego diabólico começa a espetar o bumbum angelical com pelos dourados do seu alterego divino. Sim... porque, como se já não fosse trágico suficiente não saber o que fazer, a gente ainda tem que suportar a briga desses dois.
Como tomar uma decisão resoluta e obstinada quando só você está envolvido? E mais, como fazer uma decisão que não faça o diabo se sentir um prosélito ou deus se sentir uma meretriz?
Ok... já sei. Quando essas perguntas difíceis são feitas, principalmente em cadeia, logo vem a Xuxa na nossa mente, dizendo que 'tudo pode ser, se quiser será': Implicancia sócio-cultural 2. Antes, vem aquela tia protestante, dizendo que Deus ( o que não é você, claro) tem um plano na sua vida, mas o Diabo ( que também não é o que é você) tenta impedí-lo, mas que seguremo-nos nas mãos Dele ( o D maiúsculo indica que é Deus. Aquele que não é você, claro).
Nesse momento é que reside o perigo porque toda vez que a gente não sabe o que fazer e que já está perdendo o juízo, Ele vem, a Xuxa vem, a tia velha vem e todo alicerce cultural retardador e "incompetentizador" vem com um super "mind bloqueator plus Tabajara" que promete e cumpre seu papel de fazê-lo conformar-se e continuar na posição estática e sul-americana de sempre.
O fato é que não existe porta certa. E na ausência de uma que é certa, todas são erradas. O legal é que algumas podem ser erradas de uma forma certa, eu acho. Erradas suficientes para deixar o diabo ( esse é você) e certas o suficientes para deixar o deus complacente.
No final do percurso, você acaba se tornando um passaporte gigante completamente carimbado e é quando, provavelmente, você vai escolher um ritmo e um estilo que será o estabelecido por tempo indeterminado.
Até lá, em quantas portas erradas pode-se entrar? Eu diria, com margem de erro apenas gramatical: IN-CON-TÁ-VEIS.
Ou pode-se sempre esperar pelo plano Dele acontecer e, já que eu não sei qual é o plano Dele para esse texto, eu acho que vou parar por aqui.







Ou devo continuar?

2 comentários:

ϟ Luan Côrtes disse...

O texto é aprazível, e a angústia diante das situações indefinidas, do futuro incerto e das escolhas propriamente ditas é um dos dilemas comuns entre os seres humanos, um dos aspectos que nos são peculiares.
Se serve de lenitivo, o bom (ou ruim) é que, de certa forma, o destino a que chegaremos pode ser previamente vislumbrado, uma vez que são as nossas escolhas que "dirão aonde iremos"... Por mais angustiante que seja o processo, o melhor dos resultados pode ser logrado, em consonância com o melhor que há em cada indivíduo.

Paulo Freitas disse...

"...é como ter que conversar com uma pessoa importante e com o pior hálito e não poder dizer nada"

gostei tanto dessa passagem.

Nem sempre é fácil se libertar dessa zona de desconforto que é a indecisão. Uma decisão tomada implica em vários julgamentos, a começar pelo nosso próprio. Contudo, pra começar, o melhor seria se não tivessemos aprendido que há Certo ou Errado e toda essa bullshit dicotomizadora... mas ok. vamos sentir nossa indecisão, desafia-la, respeitar nossas limitações (respeitar, mas sem conformismo), crescer e caminhar por uma via inédita: a nossa própria.

\o/