quarta-feira, 10 de abril de 2013

Eu, Peixe alado!

Há um tempo, fui apresentado ao conceito de que existem inteligências múltiplas e fiquei fascinado. Depois de passar a infância, a adolescência e o início da vida adulta acreditando que era um jumento por ter tantas dificuldades em matemática e nas ciências exatas, descobrir que uma inaptidão (qualquer que seja) não anula uma aptidão, foi bastante reconfortante. O fato é que saber-me um bom professor de língua estrangeira se tornou uma grande zona de conforto. Depois de anos sendo um perna de pau no futebol, um mentecapto em matemática, um azarado desatento nos jogos de família, finalmente, havia encontrado algo que eu podia dominar, algo que podia assumir como detentor. Mas, as categorias foram se subdividindo. E se eu era professor, tinha que ser pós-graduado, se era pós-graduado, tinha que viajar pro exterior e assim por diante. Enfim, uma sequencia impressionante de exigências que fui percebendo que de maneiras diferentes estariam presentes em todas as esferas da minha vida. Lembro que quando criança e fazia parte de uma determinada religião, minha mãe usava sempre um menino da mesma idade que a minha como parâmetro de desenvolvimento naquela comunidade em que a hierarquia, desde muito cedo, vai sendo marcada. Lembro que antes disso, os inúmeros instrutores que, automaticamente, se atribuem a uma criança, já apontavam para alguém que tinha o desempenho esperado numa atividade, num comportamento ou, enfim, em uma inteligência e diziam: "Veja o seu coleguinha ( O Pedro, O Jonas, A Marina... por que você não faz como ele(a)?" E assim, criam-se os modelos que você acaba acreditando que precisa seguir. O modelo de profissional, o modelo de filho, de marido (e aqui, além da expressão de gênero, aplica-se também a orientação sexual), os modelos que se designam para cada um de nós, em cada aspecto de nossas vidas. Com o passar do tempo, a gente vai se sentindo cada vez mais um produto e a cada pesquisa, vamos nos sentindo um produto que, defasado e depois de ter sido avaliado e comparado vai deixando de atender às exigências do consumidor. O consumidor que quer um amigo, um cônjuge, um funcionário e enfim. Interessante como o tempo inteiro somos tacitamente ensinados a fazer ajustes para atender às exigências alheias, mas nunca nos ensinam que somos bons do jeito que somos; Que não precisamos caber no formato de um círculo se somos um triângulo, ou no formato de uma estrela se somos um quadrado. É aquela velha história de que não se deve avaliar um peixe por sua capacidade de voar. Somos tão plurais e insistem em avaliar-nos como uma forma única e engessada... que injustiça!

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