Viver no interior tem sido sinônimo de paz, tranquilidade e co-existência harmônica. Conhecer os vizinhos; pedir xícaras de qualquer coisa emprestada, talvez, até cubos de gelo. Enfim, é o paraíso sem estresse ( o estresse ruim) e ruídos.
Num momento em que a impessoalidade da vida moderna nas grandes cidades é demonizada e culpada pela depressão e suicídios; a confrontação desses dois estilos de vida parece nos fazer ver com mais clareza os pontos negativos e positivos de viver no interior ou na capital. O confronto entre as xícaras de... qualquer coisa contra os óculos escuros que escondem o olhar depressivo e suicída.
Não é que na cidade grande as pessoas tenham evoluído ( ou degradado-se) tanto a ponto de não se preocupar mais com o próximo. É, simplesmente, o fato de que as pessoas não tem tempo para ocupar-se de preocupar-se com o próximo. Especialmente porque, o único próximo em sua frente é o próximo cheque; o próximo depósito; o próximo orgasmo.
O próximo no interior tem uma acepção completamente diferente. Uma que é mais humanizada e que recebe, já que há tempo a mais por causa do espaço a menos, atenção e avaliação especiais.
Sim, é do vizinho fofoqueiro que estamos falando e dos inconvenientes conhecidos com os quais esbarramos no nosso lugar preferido em todos os fins de semana em que não podemos fugir para a capital e encarar com tranquilidade e apatia os óculos depressivos. É horrível o vasto espaço dedicado à hipocrisia nas cidades pequenas, digo nas cidades pequenas porque essa hipocrisia existiria em larga escala em qualquer lugar onde as pessoas fossem obrigadas a se esbarrar a cada 7 dias.
Nelas, as pessoas tem oportunidades suficientes pra exercer todo seu cruel potencial avaliativo do comportamento, estilo e condição social do "próximo". Nelas, somos obrigados a nos preparar com artilharia pesada antes de por o pé fora de casa sem a barba feita e com roupa amassada porque, afinal, qualquer deslize pode ser subsídio para especulações das mais esdruxulas:
-"Aquele ali brigou com a mulher e levou uma facada no pâncreas".
-"Aquela novata no condomínio é largada do marido''.
-"Aquele ali tem 39 anos e é solteiro, só pode ser sodomita''.
Bom mesmo é viver na cidade grande e poder escolher quem vai saber o seu nome. Bom mesmo é ter o direito de não ter uma família de comercial de margarina e não ser obrigado a se sentir insuficiente. Bom mesmo é poder "gozar" dos prazeres que você escolhe sem encarar o escrutínio e o julgamento de completos desconhecidos, afinal, quem não goza que atire a primeira pedra.
3 comentários:
Impressionante como vivemos nos dias de hoje... O anonimato é uma raridade, artigo de luxo!!!!!
Eu nunca gozei, posso jogar quantas pedras? HASUDHUIAHDA. adoray.
Não dou conta de cidade muito pequena... Não moro em uma metrópole, mas já morei numa cidade de 3 mil habitantes e não tenho saudade nenhuma do calor humano de lá... Talvez eu já sofra desse processo egocentrista urbano e tal... Bom post! Bjs
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