quinta-feira, 31 de julho de 2008

EU QUERO UMA CASA NO CAMPO



Viver no interior tem sido sinônimo de paz, tranquilidade e co-existência harmônica. Conhecer os vizinhos; pedir xícaras de qualquer coisa emprestada, talvez, até cubos de gelo. Enfim, é o paraíso sem estresse ( o estresse ruim) e ruídos.
Num momento em que a impessoalidade da vida moderna nas grandes cidades é demonizada e culpada pela depressão e suicídios; a confrontação desses dois estilos de vida parece nos fazer ver com mais clareza os pontos negativos e positivos de viver no interior ou na capital. O confronto entre as xícaras de... qualquer coisa contra os óculos escuros que escondem o olhar depressivo e suicída.
Não é que na cidade grande as pessoas tenham evoluído ( ou degradado-se) tanto a ponto de não se preocupar mais com o próximo. É, simplesmente, o fato de que as pessoas não tem tempo para ocupar-se de preocupar-se com o próximo. Especialmente porque, o único próximo em sua frente é o próximo cheque; o próximo depósito; o próximo orgasmo.
O próximo no interior tem uma acepção completamente diferente. Uma que é mais humanizada e que recebe, já que há tempo a mais por causa do espaço a menos, atenção e avaliação especiais.
Sim, é do vizinho fofoqueiro que estamos falando e dos inconvenientes conhecidos com os quais esbarramos no nosso lugar preferido em todos os fins de semana em que não podemos fugir para a capital e encarar com tranquilidade e apatia os óculos depressivos. É horrível o vasto espaço dedicado à hipocrisia nas cidades pequenas, digo nas cidades pequenas porque essa hipocrisia existiria em larga escala em qualquer lugar onde as pessoas fossem obrigadas a se esbarrar a cada 7 dias.
Nelas, as pessoas tem oportunidades suficientes pra exercer todo seu cruel potencial avaliativo do comportamento, estilo e condição social do "próximo". Nelas, somos obrigados a nos preparar com artilharia pesada antes de por o pé fora de casa sem a barba feita e com roupa amassada porque, afinal, qualquer deslize pode ser subsídio para especulações das mais esdruxulas:
-"Aquele ali brigou com a mulher e levou uma facada no pâncreas".
-"Aquela novata no condomínio é largada do marido''.
-"Aquele ali tem 39 anos e é solteiro, só pode ser sodomita''.
Bom mesmo é viver na cidade grande e poder escolher quem vai saber o seu nome. Bom mesmo é ter o direito de não ter uma família de comercial de margarina e não ser obrigado a se sentir insuficiente. Bom mesmo é poder "gozar" dos prazeres que você escolhe sem encarar o escrutínio e o julgamento de completos desconhecidos, afinal, quem não goza que atire a primeira pedra.

3 comentários:

Unknown disse...

Impressionante como vivemos nos dias de hoje... O anonimato é uma raridade, artigo de luxo!!!!!

Gilda. disse...

Eu nunca gozei, posso jogar quantas pedras? HASUDHUIAHDA. adoray.

p4ul0_f3rn4nd0™ disse...

Não dou conta de cidade muito pequena... Não moro em uma metrópole, mas já morei numa cidade de 3 mil habitantes e não tenho saudade nenhuma do calor humano de lá... Talvez eu já sofra desse processo egocentrista urbano e tal... Bom post! Bjs